terça-feira, 26 de novembro de 2019

A riqueza do romanceiro e outras tradições orais nas Ilhas dos Açores, de Joanne B. Purcell

A publicação de hoje é dedicada a um artigo que Joanne B. Purcell publicou na revista Atlântida, em 1970.

Este artigo de quase 30 páginas é sobre uma investigação da norte-americana nas ilhas açorianas. Desde o dia 17 de maio de 1969 até ao dia 19 de abril de 1970, Purcell recolheu diversos elementos da tradição oral do arquipélago. Ao usar o método da gravação, a investigadora, em 145 fitas, recolheu mais de 2.900 textos.

Recolheu essencialmente romances e reparou que o romanceiro encontrava-se mais vivo nas ilhas das Flores, São Jorge, Graciosa, São Miguel e Santa Maria. Para além de romances, também reuniu histórias de «literatura de cordel» e de acontecimentos locais. No entanto, devido a limitações temporais e materiais, sacrificou outros aspetos da tradição oral para se focar no romanceiro.


Primeira página do artigo.
Fotografia e edição de Daniela Sampaio.


Constatou que os mais novos começavam a aprender a ser contistas aos doze ou treze anos, mas os mais velhos eram mais ativos e emotivos. Também notou que os homens eram os que mais narravam os contos. Faziam-no durante os momentos de descanso e de divertimento. As mulheres contavam/cantavam romances e faziam-no enquanto trabalhavam. 

No total, reuniu 460 a 500 textos de contos tradicionais. Relativamente à «literatura de cordel», aos acontecimentos locais e a outras narrativas em verso, tinha mais de 300 textos. Juntou, ainda, muitas orações, bem como ditados, adivinhas, lendas, etc. Sem contar com as gravações, colecionou provérbios, folhetos e cadernos escritos à mão.

Ao longo da pesquisa, notou a "pouca vitalidade do romanceiro na vida do povo". Encontrou a justificação na emigração, na tendência para imitar os estrangeiros, no desaparecimento do sentido de comunidade e nas novas distrações que foram aparecendo, como os filmes, o rádio e a música moderna.

Perante o desprezo que o povo sentia pela sua tradição oral, foram surgindo projetos de "re-popularização" do romanceiro, como discos, livros para os alunos do ensino primário, edições populares, etc.

Também verificou que, ao contrário dos contistas, aqueles que sabiam romances tinham vergonha. Muitos deles eram analfabetos e reencaminhavam Purcell para os mais cultos. Ela concluiu que, na realidade, os que tinham escolaridade praticamente sabiam apenas o que liam nos folhetos, enquanto os analfabetos sabiam romances por ser necessário recorrer à memória do ouvido para contar romances.


O artigo é mais longo e rico do que o que foi apresentado nestes parágrafos simples, que são apenas um petisco. 


Capa da revista que contém o artigo.
Fotografia e edição de Daniela Sampaio.



A Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada não tem o número desta revista para empréstimo. No entanto, pode ser consultada na Sala de Leitura se pedirem ajuda aos funcionários:

  • PURCELL, Joanne B.- A riqueza do romanceiro e outras tradições orais nas Ilhas dos Açores. In: Revista Atlântida. Angra do Heroísmo: Instituto Açoriano de Cultura. 1970, vol.14, n.º 4-5. P. 223-252.
    REV AÇORES A/83 PDP257

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