terça-feira, 19 de novembro de 2019

Arquipélago de Escritores 2019: "A literatura é uma ilha?"

Desde o dia 14 até ao dia 17 de novembro, São Miguel recebeu, pela segunda vez, o Arquipélago de Escritores. Durante esses quatro dias, os leitores tiveram a oportunidade de assistir a debates e a entrevistas feitas a autores. No dia 15 de fevereiro, no Liceu Antero de Quental, assisti às participações de Ângela de Almeida, Madalena San-Bento, Eduíno de Jesus e Norberto Ávila.

Partindo da pergunta principal (A literatura é uma ilha?), os convidados partilharam as suas opiniões relativamente à literatura e a sua relação com conceitos como "ilha", "arquipélago" e "continente".



Fotografia tirada na Sala do Liceu Antero de Quental.



Ângela de Almeida, que já publicou vários livros sobre Natália Correia, realçou a importância da leitura como algo que nos ensina a escrever, a opor e a questionar sobre o estado do mundo. Vê a ideia de "ilha" de forma ambivalente, na medida em que a literatura pode ser uma arte solitária, mas também comunica com outras formas de arte.

Madalena San-Bento, que já escreveu contos, romances e ensaios, acha que, de certa forma, a literatura é uma ilha, pois leva a um certo isolacionismo quando o escritor pretende ganhar uma nova perspetiva sobre os outros e o mundo. Desenvolve a ideia da "ilha" ao falar sobre como, no caso dos Açores, verifica-se uma literatura focada na sua fauna, flora e biologia. Ainda assim, a escrita é universal.

Eduíno de Jesus, um poeta, ensaísta e crítico literário, acredita que a literatura pode ser vista como um território isolado, mas, no fundo, está ligado a algo mais, a um "continente".

Norberto Ávila, poeta, dramaturgo e romancista, não vê a literatura como uma ilha isolada, pois nela cabem outras formas de arte, como o cinema, a ópera, etc.


De seguida, foi discutida mais uma questão pertinente: num mundo feito de escritas breves e de uma explosão de imagens vazias, que espaço fica para a literatura?

Ângela de Almeida começou por dizer que o excesso de coisas como o telemóvel levam à ausência da leitura e, por sua vez, à ausência da escrita e da capacidade de questionar. Aliás, para combater o revivalismo dos extremos, deveríamos ler, escrever e participar, até porque, como a própria disse, "não há melhor arma do que a educação".

Madalena San-Bento vê a imagem como algo com um poder fortíssimo. Ela é invasiva, mas, ainda assim, é limitativa, não deixando espaço para a imaginação. A narrativa, pelo contrário, permite o uso da imaginação. Na realidade, o ser humano tem "sede de narrativas".

Eduíno de Jesus defende que a palavra é muito rica e Norberto Ávila acha que há um perigo iminente.



Os convidados: Ângela Almeida, Madalena San-Bento, Eduíno de Jesus e Norberto Ávila.


Na fase das intervenções, foi dito que a literatura, para sobreviver, deveria adaptar-se aos paradigmas que vão surgindo. Falou-se, ainda, sobre a necessidade de arranjar uma forma de comunicar com os jovens. Nesse aspeto, Madalena San-Bento já tinha reparado que as gerações mais novas, ao publicarem imagens, gostam de colocar frases, por exemplo. Por isso, ela acredita que o melhor seria haver uma união entre a palavra e a imagem.


Concluindo, em relação à primeira pergunta, a literatura pode ser vista como uma ilha. Todavia, passa a ser um arquipélago ou um continente ao entrar em contacto com os outros e com outras formas de arte. Quanto à segunda pergunta, a imagem pode ter as suas vantagens, mas a palavra não deixa de ser poderosa.

Sem comentários:

Enviar um comentário